Pedro gostava muito de Nazaré, cidade pequena mas muito bem situada, construções de pedra calcária em que a ordem impunha admiração e respeito. E Pedro admirava os nazarenos com os seus cabelos longos, muitos deles amantes da filosofia.
Planície de Esdraelom
Nazaré ficava na Baixa Galileia, mas para o norte da planície de Esdraelom. As suas plantações de figueiras e oliveiras embelezavam mais a aldeia, arrematada com os ciprestes. E o que mais encantava na cidade de Nazaré era a Fonte da Virgem, de onde saía a água para toda a comunidade dos nazarenos.
Fonte da Virgem (Nazaré)
Quem fosse a Nazaré e não chegasse à Fonte da Virgem, não tinha ido a Nazaré.
Era uma beleza natural.
Simão Pedro Bar-Jonas já a conhecera há muito. Voltava lá sempre que podia, já que era pescador de profissão e por prazer. As águas faziam-lhe muito bem. Traziam os seus sentimentos às praias da mente, beneficiando a sua razão. Eis porque vamos encontrar Pedro em Nazaré, na famosa Fonte da Virgem, contemplando as belezas naturais que a mão do homem igualmente retocou.
Depois de muitas conversações com nazarenos que o conheceram como veterano pescador do Mar da Galileia, recolhe-se num banco de pedra que a natureza cinzelara, senta-se e começa a pensar. “Porque motivo aquela fonte foi logo aparecer ali, quem a construiu e como aquela água saíra ali com a medida certa de beneficiar aquela a população, encantando os visitantes?” Eis o descortino de Pedro, o pescador.
Daí a pouco, surge diante de si um nazarenozinho de uns quatro anos diante do pescador da Galileia, encosta-se nas suas pernas e chama-lhe “avô”.
Pedro sai da meditação e sorri para a criança, que corresponde com alegria. O menino pula para as pernas de Pedro e fala com a sua voz encantadora:
– Avô! Eu posso pendurar-me nas tuas barbas?
Pedro, meio esquisito, ficou um pouco sem responder, enquanto o menino esperava a sua decisão. Passado um pouco, ele sorri para a criança e diz:
– Pode, meu filho, pode. Por que não?
A criança avança com as suas pequenas mãos e pendura-se nas barbas longas do homem de Betsaida. Depois agarra-se ao seu volumoso pescoço, beijando-o de contentamento. Pedro fica encantado com a criança, pelo seu desembaraço, olha para os lados e não vê o acompanhante do garoto Começa a responder às perguntas do menino, desta forma:
– Quem te deu essas barbas?
– Foi Deus, meu filho!
– Onde mora esse Deus, avô?
– Nos céus.
– Onde ficam os céus?
– Lá em cima – Pedro aponta para o alto.
– E tu já foste lá, avô?
Pedro, sem querer mentir, fica calado. Depois responde:
– Não, meu filho.
– Então como tu sabes que fica lá em cima?
Pedro nada responde.
– Avô, tu falas. Quem te ensinou a falar?
Pedro, já preocupado:
– Foi o meu pai.
– E quem é o teu pai?
– Um homem, lá na cidade de Betsaida.
– E o teu pai fala?
– Sim.
– E quem foi que ensinou a ele?
Pedro meditou um pouco e disse:
– Há… Há… – Foi Deus.
– E quem é Deus?
Pedro começou a mostrar a fonte ao menino, distrair a criança com outras coisas, porque estava com dificuldade para explicar àquele menino as coisas que ele perguntava. E a criança, viva e alegre, fala com Pedro sorrindo, no maior encanto da beleza infantil:
– Avô, fecha os olhos!
Pedro demorou um pouco e a criança insiste:
– Fecha os olhos, avô, os olhos!
Pedro sorrindo também, fecha os olhos e, levantando a criança com ar de brincadeira, fala:
– E quando é que eu vou abri-los?
O menino responde:
– Agora avô!
Pedro com espanto, abre os olhos e, com as mãos para cima, estava segurando o seu cajado. O menino tinha sumido das suas mãos calejadas mãos. Procura aqui e ali, nada… O menino tinha sumido realmente. Pedro balança a cabeça, tenta negar o ocorrido, no entanto, vê que não era possível, ele tinha realmente conversado com uma criança e ainda tinha em mente as suas perguntas.
Levanta-se, olha demoradamente para as águas límpidas e belas, olha para os céus e fala consigo mesmo: “Há muito mistério que os homens ignoram”. E começa a conversar com novos amigos que vão chegando.
O apóstolo, ao chegar à igreja dos pescadores, encontra Filipe à porta, indo os dois proceder à limpeza do salão. Mateus queria sentir o prazer de orar aquela noite e quando pensava nisto, deparara com o olhar de Jesus, entendendo que devia iniciar a prece. Após a súplica, Simão Pedro levanta-se serenamente e pergunta ao Nazareno:
– Senhor, poderia explicar-nos o que se pode entender pela palavra Confiar? Não só a palavra, mas a prática dessa experiência que, às vezes, me confunde. Quando e onde confiar?
O Mestre, na sua postura elegante, ajeita o belo manto de linho aos ombros, desliza prazerosamente o seu olhar em todos os assistentes e responde, com nobreza:
– A confiança, Pedro, não é material comprável nos mercados da Terra. É uma semente plantada por Deus na consciência das criaturas que pode, pelas mãos do tempo e o esforço de cada dia, ser despertada em cada um, tornando o seu crescimento, por assim dizer, infinito nos corações.
Se alguém te fala algo que o teu coração não pode aceitar, para recusares não é necessário desconfiar. Somente não aceites e basta.
Alimentar a desconfiança, Pedro, traz ao coração a dúvida, o medo, falsificando os alicerces de todos os teus ideais. Esforça-te para que tenhas confiança em tudo e em todos os momentos da vida, que essa mesma vida te responderá com a fé, com a certeza, e isso te trará a alegria duradoura e a paz necessária para viveres. Se começas a duvidar de tudo o que ouves, como vai ficar a tua mente? Certamente que ficará negativa e tu serás um negativo andante.
Enquanto, Pedro, não souberes copiar a natureza na sua sábia vivência, debaterás entre as escórias das indecisões até aprenderes com ela as lições ministradas por Deus.
Jesus dá um intervalo e olha mansamente para todos os seus companheiros. O Mestre expressa novamente o seu modo de entender a confiança e o confiar, na mais pura intimidade:
– Pedro! Acima da confiança nos outros, da confiança no que ouves, da confiança nos destinos da humanidade, é bem melhor que confies muito, mas muito em ti mesmo.
Duvidas da tua capacidade, duvidas do que podes realizar?
Duvidas dos teus sentidos, duvidas das coisas invisíveis?
Se fores por esses caminhos das dúvidas, acabarás duvidando de Deus, Nosso Pai no. Procura fazer no teu coração um alicerce de confiança, aquela que te assegura nas tuas próprias convicções. Duvidas até do modo pelo qual deves confiar e qual a hora da confiança. Confiança não tem hora ela deve ser permanente.
Tudo o que fizeres, faz com confiança, acreditando nas tuas boas realizações. Se por ventura algo falhar, como é de costume nos humanos, não esmoreças com o ocorrido, e não te lembres da dúvida.
Avança ocupando a mente e o coração noutras atitudes. Ponderar, é seleccionar trabalho e não dar vazão às desconfianças que poderão enraizar-se na tua cabeça e crescer como semente maligna, dando muito trabalho para ser arrancada.
Aquele que não duvidar no seu coração, já começa a dar mostras de que está entendendo a vida e atendendo Deus. Confiar em si mesmo é um passo avançado no mundo interior. Compete a cada um começar esse trabalho.
Na verdade Pedro, a nossa mente pode produzir fenómenos indescritíveis à luz da filosofia actual. Porém, diante das coisas divinas que se processam por intermédio dos homens, essa filosofia está muito longe, qual Terra das estrelas e é por isso que aconselhamos a oração. Ela sensibiliza todos os dons que possuis e te dá uma certeza.
Somente quem está imbuído desse espírito entende, pois a linguagem, na sua pobreza diante da realidade, não consegue dar melhores explicações daquilo que não se vê, com aquilo que é visto.
Já pensaste o que pode acontecer a um homem em dúvida?
É o mesmo que um barco solto ao léu das águas de um rio ou nas ondas furiosas do mar.
O Mestre firmou a atenção no apóstolo e os seus olhos brilhavam qual as estrelas nos céus. Com firmeza, terminou a sua exposição:
– Simão Pedro Bar-Jonas! Nós não nos devemos preocupar em demasia com as coisas de adultos, se ainda não entendemos as ideias das crianças. Sejamos comedidos mesmo na alimentação espiritual, pois para tudo deve-se ter uma medida e um tempo.
Se levares ao forno uma massa sem a medida de fermento, o pão irá atrofiar-se e não servirá ao paladar.
Continua as tuas interrogações e pesquisas, mas não te esqueças de abrir caminho com a sequência da prática, a teoria sem a confirmação são nuvens anunciando chuvas, mas completamente secas. É bom que não te esqueças disso: não devemos duvidar das pessoas, porque não gostamos delas.
Em muitos casos, o ponto de dúvida está em nós.
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Extraído do livro “Avé Luz” – João Nunes Maia/ Espírito Shaolin
Gostei. Abraço do Fernando
ResponderEliminarEspero por novo texto, que me agrade tanto como este. Sei que és capaz. Um abraço do Fernando
ResponderEliminarés tu que acertas o relógio? A hora está desfazada em relação á data. FB
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